Fala do deputado federal Gustavo Gayer sobre a África configura quebra de decoro? | O GRANDE DEBATE
Janaína Paschoal na CNN
A fala do deputado configura quebra de decoro Janaína?
Veja, é uma fala, não quero desrespeitar ninguém, mas é uma fala que mostra um desconhecimento muito grande por parte do deputado.
Desconhecimento do que é o feminismo. Que existem vários movimentos feministras. Que não necessariamente um movimento pode ser desmerecido por algumas radicalizações.Então ele pegou ali umas máximas dessa direita muito extrema e reverberou, e aumentou essas máximas sem refletir.
A mesma coisa com essa fala que mostra assim tanta ignorância a respeito da África. Então, assim, é uma pena, eu acredito que quando uma pessoa é eleita ela tem que buscar conhecer mais, conhecer melhor, ela tem que buscar se aprimorar pra conseguir representar na verdade não só aquele grupo que a elegeu, mas talvez aumentar um pouco essa gama de representatividade.
Bom, é uma fala que incomoda, é uma fala com a qual eu obviamente não concordo, mas eu não vejo que haja elementos para cassassão.
Ele representa uma parcela da sociedade, ainda que pequena, como outros parlamentares que também falam absurdos de outras naturezas representam.
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Por outro lado, há um debate que precisa ser feito, que é dum feminismo que se impõe. A visão de feminismo de determinados grupos ser imposta às mulheres.
Eu lembro muita duma frase da ex senadora, hoje secretária, Marta Suplicy, não sei nem se ela lembra dessa frase dela, mas foi uma frase que me marcou muito quando ela disse: "A mulher pode escolher, inclusive ser dona de casa, inclusive não ter uma vida profissional, e eu naquele momento né, eu era muito jovem e tinha essa visão um pouco preconceituosa que toda mulher tem que trabalhar, toda mulher tem que.... e aquilo me fez refletir. Então, assim, nós precisamos também debater sobre...
Jornalista: Janaína, você sabe que até o direito de escolha tem a ver com questões raciais. Por exemplo: Mulheres pretas nunca tiveram o direito de escolha de não trabalhar. Elas trabalham nesse país desde sempre lembrando que a gente tem pouco mais de 130 anos de abolição elas já trabalhavam e continuaram trabalhando. Então, são muitos feminismos.
Jornalista: Mas eu queria te perguntar sobre questão racial. Você acha que o deputado ele não fez uma fala racista ao diminuir a África? A intelectualidade. A questão intelectual inclusive na África? Ainda citar macacos na mesma fala?
Janína: Que é uma fala racista no sentido de diminuição não tenho dúvida, agora se é uma fala racista para caracterizar um crime ou uma quebra de decoro já acho que tem uma distância. Se eu não estou equivocada, vou falar aqui, mas eu me lembro que quando era presidente das vezes anteriores o presidente Lula, se não estou equivocada, ao visitar a Àfrica teria dito que nem parecia África. Essa falta de conhecimento sobre os outros povos, os outros continetes ela não é uma exclusividade do deputado.
Jornalista: Você não vê racismo? (Na fala do deputado).
Janaína: Sim, mas não o racismo que caracterize crime a ponto de tirar o mandato de uma pessoa.
Jornalista Alessandro: Eu vou, talvez economizar um pouco para a Janaína, porque ela usou algumas frases, algumas palavras que eu anotei aqui.
Que ele teria feito sem refletir. Que seria uma espécie de ignorãncia, que gera um tipo de incômodo e que no fundo nada aconteceu, nada de mais. Vocês estão fazendo um turbilhão num copo d'água. E continua a vida. Eu tenho, acho que semanalmente vindo aqui no programa e nos próximos programas, eu creio, isso também vai continuar: Fazer uma acusação. E qual é a acusação? Que isto é uma estratégia política. Ele acabou de parecer agora na CNN, milhares de expectadores vendo. Essa narrativa dele é exatamente isso que ele queria. Era isso que ele desejava enquanto estratégia política.
Por isso não me parece que seja feito sem refletir. Ele sabe o que está fazendo.
Acho que no campo da sociedade nós temos coisas que nós podemos dizer, tem coisas que nós devemos dizer, tem coisas que nós devemos silenciar dentro de nós mesmos.
O quele fez foi dizer o indizível. Tentando reelaborar, fazer de determinada forma pra depois ele dizer o que? Que o fato aconteceu. Até porque tá gravado. Ele não vai dizer que ali é um deep fake, que gravaram a imagem dele.
Ele disse aquelas coisas, aquelas aberrações e pior numa roda de homens. Detalhes: Uma rodinha de homens comentando coisas absurdas, aberrantes. E isso numa espécie de normalidade. Estavam rindo até, brincando, outro pegou o QI do macaco comparando com o ser humano e comparando com as pessoas negras e assim foi. Me lembra Bolsonaro, quando falou lá atrás que uma pessoa negra pesava uma arroba, coisas do gênero. Ou seja, eles fazem isso o tempo inteiro. O que eles estão fazendo? Testando as instituições democráticas. As quatro linhas que o Bolsonaro fala que ele respeita na Constituição são quatro linhas de giz. Ele vai apagando e vai ampliando a margem e ele vai testando. Hoje eu falei isso se eles aceitarem, amanhã eu falo mais um pouquinho. E assim eu vou testando. Testar é: Tensionar as instituições. Tensionar siginifica ir rumo à ruptura institucional.
É uma narrativa isolada mas que se coloca num quadro geral de busca de seguidores, de pessoas que realmente, como a Janaína bem disse, algumas pessoas pensam igual ele. Ele está buscando essas pessoas. E eu acho que ele sabe o que está fazendo. Por isso que pra mim: Ele acha uma zona de conforto onde ele pode dizer estas coisas e amanhá de manhã se não cassarem o mandato dele, se não tiver uma ação judicial acusando ele de racismo, não tiver uma ação penal, se nada acontecer, sabe o que vai acontecer amanhã de manhã? Ele vai fazer um outro podcast nós vamos voltar aqui, a Janaína vai opinar, eu vou opinar, o Álvaro vai opinar, a Lu vai opinar e nós vamos esperar o novo podcast dele.
Tem que cassar o mandato. Tem que julgar inelegível. Tem que colocar na prisão. Não tem o que fazer. As pessoas estão brincando com a democracia hoje. Eu não brinco. O que nós estamos enfrentando no Brasil hoje é alguma coisa que pode criar um monstro. E nós estamos criando todos os dias e agora com tecnolociga, celular e coisas do gênero.
Então assim, não acho que é uma brincadeira. Acho nós temos uma ameaça grave aqui. Tem que dar o exemplo. Se a Câmara dos Deputados não cassar o mandato desse sujeito. Se não houver uma ação judicial muito clara prá derrubar esse sujeito, nós temos um problema no Brasil que é deixar essas pessoas falarem e amanhã de manhã, talvez, não tenhamos nem um programa como esse pra falar o que nós estamos falando hoje aqui.
Janaína: Nesta semana um defensor público disse: "Que a mulher que votou em Bolsonaro não poderia reclamar se levasse uma dedada, eu vou usar os termos que ele usou, no ânus ou na vagina. Tá dizendo que a mulher merece, merece ser violentada.
Eu queria saber o seguinte: Se o colega que entende que tem que cassar o deputado por esse absurdo que ele falou entende que esse defensor tem que perder o cargo também ou não?
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