📌 A ATUAÇÃO DE FACÇÕES CRIMINOSAS NO RIO DE JANEIRO

1. Origem nas prisões: o berço das facções
A história das principais facções criminosas do Rio de Janeiro tem suas raízes no sistema prisional:
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Comando Vermelho (CV): surgiu no final da década de 1970 no presídio da Ilha Grande, a partir da convivência forçada entre presos comuns e presos políticos, que compartilhavam estratégias de organização e resistência. Essa união produziu um novo tipo de criminoso: mais politizado e com visão de rede.
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Amigos dos Amigos (ADA) e Terceiro Comando Puro (TCP): nasceram posteriormente como dissidências do CV, disputando território e poder com violência.
📍 A prisão, longe de reabilitar, tornou-se uma “universidade do crime”, onde nasciam estruturas criminosas organizadas que depois se expandiriam pelas comunidades.
2. Expansão territorial: o domínio das favelas
As facções se aproveitaram do abandono estatal nas periferias e assumiram funções que o governo não cumpria:
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“Justiça” paralela: julgam e punem moradores conforme suas próprias regras.
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Serviços sociais: distribuição de cestas básicas, medicamentos, festas e até apoio financeiro a famílias.
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Emprego e proteção: jovens são aliciados como “olheiros”, “vapores” e “soldados”.
📍 A ausência do Estado foi preenchida por um poder paralelo, que ofereceu pertencimento, proteção e sustento a uma população esquecida.
3.Infiltração nas instituições
Com o tempo, as facções buscaram legitimidade e blindagem, infiltrando-se em órgãos oficiais:
📌 Exemplos:
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Corrupção policial: policiais civis e militares foram presos por envolvimento com facções, seja para liberar cargas, avisar operações ou vender armas.
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Milicianos eleitos: o Rio viu crescer a influência de milícias, grupos formados por ex-policiais e militares que dominam áreas inteiras com lógica mafiosa e, diferentemente das facções do tráfico, buscam poder político institucionalizado.
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Casos emblemáticos:
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Flávio Bolsonaro foi investigado por ligações com milicianos, inclusive com o caso de Fabrício Queiroz, acusado de comandar um esquema de rachadinha com milicianos na Assembleia Legislativa.
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Caso Marielle Franco: assassinada em 2018. Investigações revelam possível envolvimento de milicianos ligados a políticos e à segurança pública.
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4. Blindagem política e eleitoral
As facções e milícias influenciam eleições em seus territórios:
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Impõem candidatos.
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Intimidam adversários.
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Garantem votos em troca de favores, proteção e favores futuros no exercício do mandato.
📍 Assim, o poder criminoso deixou de ser apenas marginal e passou a se institucionalizar, entrando pelas portas da política e da administração pública.
5. Tentativas e fracassos do Estado
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UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora): criadas em 2008, buscavam retomar o controle do Estado sobre os territórios. Tiveram sucesso inicial, mas fracassaram por falta de continuidade, corrupção interna e resistência das facções.
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Intervenção Federal (2018): a presença militar no Rio foi marcada por resultados questionáveis. Muitas operações terminaram com mortes de inocentes, sem desmantelar efetivamente as organizações criminosas.
🎯 Conclusão
A atuação das facções criminosas no Rio de Janeiro escancara a falência de políticas públicas de segurança, o colapso do sistema prisional, e a omissão do Estado nas periferias.
Mais grave ainda: mostra como o crime, longe de estar fora das instituições, muitas vezes está dentro delas, infiltrado, blindado e até votado democraticamente.